
A imprensa progressista e seus inimigos declarados
A estratégia da deslegitimação: quando discordar da agenda progressista te torna um "extremista"
CULTURA
Nos últimos anos, tornou-se cada vez mais comum ver a mídia tradicional rotular qualquer pessoa que ouse discordar da cartilha progressista como membro da "extrema-direita" ou da "ultradireita". Esse movimento não é apenas uma distorção semântica: é uma estratégia deliberada de deslegitimação e descredibilização. Ao empurrar qualquer voz dissonante para o extremo do espectro ideológico, na tentativa de movimentar a janela de Overton, cria-se uma narrativa onde toda crítica à agenda "woke" é automaticamente tratada como perigosa, violenta ou indigna de participação no debate público.
Na prática, isso significa que se você questiona dogmas modernos como a ideologia de gênero nas escolas, os limites da liberdade de expressão em nome do politicamente correto ou os subsídios culturais financiados pelo Estado, você não é mais apenas um crítico: você é "fascista". Não há espaço para nuances, para o cético, para o reformista. Ou você adere integralmente à pauta progressista, ou é colocado no mesmo cesto de neonazistas, supremacistas brancos e terroristas.
Essa tática é antiga. Os regimes totalitários sempre usaram a linguagem para enquadrar seus adversários como inimigos da sociedade. E é justamente isso que estamos assistindo: um discurso que se autodenomina plural e inclusivo, mas que não tolera nenhum tipo de dissenso. Ao rotular qualquer crítica como "discurso de ódio", cria-se um ambiente em que a repressão se disfarça de virtude. É o velho "quem discorda de mim deve ser silenciado" – só que agora com hashtags, manchetes e pareceres de "especialistas".
Essa realidade lembra, com inquietante precisão, os mundos distópicos retratados em obras como 1984, de George Orwell, e Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Em 1984, o Estado totalitário manipula a linguagem e os significados para controlar o pensamento – o famoso "duplipensar". A simples discordância se torna crime de pensamento. Já em Admirável Mundo Novo, a repressão não vem pelo medo, mas pelo condicionamento cultural e pela supressão de todo conflito através do prazer superficial e da homogeneização do discurso. Ambas as obras apontam para um futuro onde a liberdade é sacrificada em nome de uma falsa harmonia – exatamente o que ocorre quando toda divergência é tratada como extremismo.
Ironicamente, essa prática se assemelha muito mais à lógica fascista do que aos princípios que ela diz combater. O fascismo histórico se caracterizou justamente por calar o contraditório, manipular o imaginário coletivo e reprimir qualquer divergência sob o pretexto de preservar a ordem moral ou social. O que vê-se hoje é uma versão atualizada desse modelo, onde a censura não vem de um Estado autoritário formal, mas de um consórcio informal de mídia, academia e cultura engajada, que se autoatribui a função de guardião da verdade e do bem.
Essa tática, aliás, não é acidental. Ela dialoga diretamente com a estratégia de Antonio Gramsci, pensador marxista italiano, que propôs a tomada do poder cultural como via para a transformação política. Para Gramsci, antes de conquistar o Estado, seria necessário conquistar o imaginário coletivo – dominar a linguagem, os valores e a moral pública. Trata-se de uma "revolução cultural" silenciosa, na qual quem controla o discurso, controla a realidade. A rotulagem de opositores como "extremistas" é, portanto, uma forma de ostracismo simbólico que cumpre essa função de manutenção hegemônica.
O objetivo é claro: transformar o contraditor em pária, rotular antes de argumentar, isolar antes de dialogar. E uma vez tachado de extremista, o indivíduo perde sua legitimidade de fala. Seus argumentos não são mais examinados; são descartados com base em rótulos. Isso abre caminho para todo tipo de perseguição velada: desmonetização de canais, cancelamentos, censura algorítmica e até mesmo investigações sob acusações difusas.
No fim, a pergunta que devemos fazer é: quem são, de fato, os intolerantes? Aqueles que desafiam o consenso progressista e pedem mais liberdade de expressão? Ou aqueles que impõem um novo catecismo ideológico e condenam ao ostracismo qualquer um que não se ajoelhe diante dele?
Pensar diferente não é crime. E se defender a pluralidade de ideias é ser "extremista", então talvez a definição de extremismo precise ser urgentemente revista.
