
Virtue Signaling: A Nova Moralidade Performática
Entre a aparência e a essência: o vício de parecer virtuoso na era da pós-verdade.
CRÍTICA SOCIAL
Em tempos de redes sociais, likes e narrativas instantâneas, um conceito tem se tornado cada vez mais central para entender o comportamento político contemporâneo: o virtue signaling, ou sinalização de virtude. Trata-se da prática de expressar opiniões ou posicionamentos morais, não com o intuito sincero de transformar a realidade ou aprofundar o debate, mas sim para parecer virtuoso diante dos outros, elevar a própria imagem e conquistar status dentro de grupos sociais. É a moralidade como performance, não como princípio.
A esquerda progressista, sobretudo nas democracias ocidentais, fez dessa tática uma estratégia central de domínio discursivo. Apropriando-se de pautas como os direitos civis, o feminismo, a defesa das minorias, o antirracismo e a justiça social, transformou-as em um arsenal de superioridade moral. O detalhe incômodo é que muitas dessas pautas foram originalmente levantadas por correntes do liberalismo clássico, defensoras da autonomia individual, da igualdade perante a lei e da liberdade civil contra o Estado opressor.
Ao capturar essas pautas, a esquerda conseguiu duas coisas: monopolizar o discurso do bem e restringir o debate político a uma dinâmica de quem parece mais compassivo, e não de quem tem as melhores ideias. Isso gera um ambiente em que discordar de certos dogmas progressistas não te torna um oponente ideológico, mas um pária moral. Questionar cotas, criticar o assistencialismo estatal ou levantar o valor da família tradicional passa a ser visto como falta de empatia, egoísmo ou "discurso de ódio".
A grande hipocrisia dessa postura salta aos olhos. Em nome da defesa dos pobres, muitos desses "sinalizadores de virtude" defendem políticas econômicas que condenam os mesmos pobres ao assistencialismo eterno, à dependência do Estado e à precariedade. Em nome da igualdade, militam por medidas que ignoram o mérito, promovem a fragmentação social e cultivam ressentimentos coletivos. E o pior: muitos dos mais vocais defensores dessas pautas são, na prática, os maiores usufrutuários das benesses do capitalismo que eles tanto criticam.
Essa contradição fica ainda mais evidente entre brasileiros que vivem em países economicamente livres — como os Estados Unidos, o Reino Unido ou a Alemanha —, onde podem usufruir de liberdades econômicas, segurança jurídica, serviços eficientes e abundância gerada por mercados relativamente abertos. Ainda assim, muitos deles se dedicam a defender no Brasil políticos e partidos alinhados a modelos estatistas, populistas e autoritários. Isso ocorre, muitas vezes, por um sentimento inconsciente de culpa ou por uma tentativa performática de demonstrar que, mesmo vivendo em privilégio, ainda "se importam com os pobres". Trata-se de uma espécie de penitência moral travestida de engajamento político.
Porém, quando confrontados com a própria hipocrisia, esses mesmos militantes costumam fugir do debate racional. Em vez de argumentar com base em fatos e princípios, recorrem a rótulos, acusações de insensibilidade ou tentam deslegitimar o interlocutor com ataques pessoais. O objetivo não é convencer, mas silenciar. O foco não é discutir ideias, mas proteger a imagem cuidadosamente cultivada de pessoa virtuosa.
No fundo, o virtue signaling não é apenas uma estratégia retórica: é um sintoma de uma era em que a aparência moral vale mais do que a ação concreta. Em vez de encarar os dilemas sociais com coragem intelectual, muitos preferem os aplausos fáceis da bolha ideológica. E assim, sob o verniz da bondade, se esconde uma das formas mais sutis e perigosas de manipulação da opinião pública.
Por isso, quando alguém diz a um suposto comunista ou socialista: "Vá para Cuba", o que se está dizendo, na verdade, é: já que você se considera tão moralmente virtuoso e superior, por que não demonstra na prática que acredita no que defende e vai viver em um país que prega, na realidade, aquilo que você tanto diz apoiar? Trata-se de um chamado à coerência.
Quando um liberal, conservador ou libertário afirma defender o livre mercado ou um Estado menos intervencionista, ele, via de regra, está totalmente disposto a viver essa experiência na prática, e muitas vezes o faz ao se mudar para países que aplicam justamente aquilo que ele defende. Logo, dizer "Vá para Cuba" não é nada além de um convite à honestidade ideológica — uma provocação para que o sinalizador de virtude mostre, com ações, que realmente acredita naquilo que afirma defender com palavras.